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O alarme
social é, em regra, prejudicial, mas ninguém tem dúvidas de que a prevenção e a prudência nos torna mais preparados para enfrentar o desconhecido. Por vezes, é mesmo preciso enfatizar os efeitos de eventual pandemia, para conformar comportamentos individuais e colectivos e, assim, diminuir os factores de propagação. Confesso que não sei se a dimensão do alarme se adequa ou não às características próprias do presente surto de gripe, mas continua a ser preferível prevenir a remediar.
Em sentido, porventura oposto, fica a opinião de Manuel António Pina, que pelo seu habitual misto de sarcasmo e humor, costumo ler.
“Tenham medo, muito medo
O cenário é apocalíptico (…): ruas desertas, escolas, fábricas, restaurantes, centros comerciais fechados, (…) igrejas, estádios, casas de fado, fechados; e as famílias fechadas em casa (persianas corridas, janelas fechadas, portas fechadas, casota do cão fechada) com as câmaras de segurança direccionadas, já não para os bairros periféricos, mas para partículas em suspensão e vizinhos (…). A crer em jornais e TV, o H1N1 propaga-se mais depressa que o comunismo; pior: os comunistas só comiam criancinhas, o H1N1 come a família toda. 127 mortos nos Estados Unidos, 21 no Canadá, 7 na Austrália, 29 no Reino Unido, 3 em Espanha… Segundo o último relatório da OMS, já há 311 mortos em todo o mundo (…). Face a números tão aterradores, o que são 6 milhões de crianças morrendo anualmente devido a fome e subnutrição e 10 milhões devido a doenças que podiam ser evitadas com uma simples vacina?”
In Jornal de Notícias, 21/07/09