sexta-feira, 29 de maio de 2009

Passagem pela Ágora


Eleições europeias

Anteontem, os políticos prometiam referendar o Tratado de Lisboa, argumentando ser necessário que o povo exprimisse a sua vontade relativamente ao documento de cariz constitucional, decidindo soberanamente da sua aprovação e ratificação.
Ontem, consideraram não ser conveniente nem necessário ouvir o povo português, e vai daí, abdicaram do referendo e defendendo ser suficiente a aprovação na Assembleia da República pelos senhores deputados, depositários do poder soberano do povo, assim o aprovaram. (Claro, todos conscientes que o povo, quando os elegeu, lhes cometeu tais poderes de representação, por adivinhar que o referendo então prometido na campanha, se não faria.)
Hoje, multiplicam-se em discursos apelando à necessidade da participação do povo português na construção europeia e na eleição dos membros do parlamento europeu.

Só que, tantas vezes foi o cântaro à fonte que alguma vez teria de partir a asa, diz o povo, e o mesmo estará para suceder nas eleições europeias, onde a crer nas sondagens, se poderá registar a maior abstenção de sempre, demonstrando o desencantamento com os políticos e a União Europeia – apesar da presidência do português, Durão Barroso.

Mas eis senão quando, surge o paladino da democracia Carlos César, presidente do Governo Regional da Madeira a tirar o coelho da cartola ao defender a obrigatoriedade do voto eleitoral, para proteger a democracia (isto é, diz-nos ser necessário proteger a democracia dos cidadãos!). Vá-se lá entender tal paradoxo. Repare-se que, ele próprio, governa com maioria absoluta assente em 20% dos votos dos eleitores inscritos na região.
Disse, a este propósito Manuel António Pina, JN, 29/05/09: “Não lhe passa, claro, pela cabeça "proteger" a democracia dos políticos. Obrigando-os, por exemplo (seria um bom começo), a cumprir promessas eleitorais."

Por tudo isto, apetece citar:
Quosque tandem Catilina, abuteris patientia nostra?
(até quando, oh Catilina, abusarás tu da nossa paciência?)

5 comentários:

  1. Menbros do Blog Cogitar,
    Tem um prêmio no meu blog para vocês. Parabéns pelo seu blog.

    Abraço,

    Marise.

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  2. Em Leaves of Grass - "Song of Myself" - Walt Whitman já sublinhava a questão da incoerência humana: "Do I contradict myself?/Very well then I contradict myself, (I am large, I contain multitudes.)" [Whitman, 1983:72].

    É verdade que, no plano da construção da identidade, as contradições são insuperáveis e as virtudes da dimensão multicultural de referências superam (de um modo geral)as desvantagens (porque alargam perspectivas e opções de vida). Todavia, no domínio dos factores que estimulam atitudes de cidadania, designadamente do incentivo ao voto,a coerência é fundamental! E o exemplo tem que vir de cima.Infelizmente, em Portugal, isso quase nunca acontece!
    Voto obrigatório? Isso lembra-se o Estado Novo!
    Porque será?

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  3. No Brasil é utilizado o sistema de Representação Proporcional Partidária, sendo que, na hora de votar, nós escolhemos o candidato mas, na hora da contabilização, o voto é contabilizado por partido no sistema de lista aberta. Para chegamos ao número de votos que um candidato tem que ter para ocupar uma cadeira, temos que dividir o número de votos válidos pelo número de cadeiras. Chegando a esse número, somam todos os votos que um partido obteve e divide pelo número necessário para se obter uma cadeira, o resultado será o número de candidatos que aquele partido conseguiu eleger.
    P. ex.: Votos válidos: 21.568.202 : 70 (cadeiras) = 308.117
    X (votos que um partido obteve) : 308.117 = Y (cadeiras desse partido).
    Contudo, o povo já mais do que rebelde com o nosso Governo, vota num Zé Ninguém, sem pé e cabeça, só para não dar ganho aos velhos conhecidos, fazendo muitas vezes, com que este Zé Ninguém ganhe e ainda leve consigo outros de seu partido, tão ruins quanto este próprio. Esse é o problema.

    Mas estão querendo mudar esse sistema de votação, devendo ganhar toda a chapa do partido que mais voto recebeu. Nossa, por essa eu não gostaria!! Só de pensar que o Brasil poderá estar no controle de um Zé Povinho Qualquer, é uma lástima. Falando assim, basta o Lula-lá, alegar que não precisa de certificados de estudos para ser Presidente, já que ele possui apenas o primário, se não me engano. Que grande decepção ouvir isso!! Grande incentivo que ele deu aos alunos que, por sinal, seguem o novo regime de serem aprovados a todo o custo, ou seja, está proibida a repetência!!
    Esse meu Brasil...!! Há tempos a nossa democracia é manipulada....
    Abraços,
    Ana Lúcia.

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  4. Ana Lúcia,

    Em Portugal também existem uns cursos de educação e formação (vulgo CEF e EFA) em que os alunos são todos aprovados, aprendam ou não...
    Ao que isto chegou!

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  5. Gostei muito de conhecer teu belo blog.
    Repleto de ótimas informações...
    Eu adorei...
    Parabéns e aplausos!
    Voltarei mais vezes...
    Deus abençoe sua vida infinitamente.
    Beijos de poesias perfumados...
    Com ternura,
    CelyLua, Amiga e fã do seu blog.

    Muito obrigada!

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