A democracia, geneticamente, não é arrogante. É mesmo a sua antítese, em contraponto com o autoritarismo das ditaduras. Por isso, o estranho é ter sido possível convivermos tanto tempo em “contranatura”, permitindo-se a sobranceria do srº Sócrates. Não falo sequer de competência e seriedade, qualidades ou falta delas susceptíveis de serem dirimidas noutras sedes.
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Mas, agora, o senhor primeiro-ministro à arrogância inicial, veio-lhe adicionar a traição e a deslealdade, não sendo pois de estranhar o desfecho. Se antes, para aprovação do orçamento e das várias medidas de austeridade anteriores, negociou previamente com o PSD, deu conta prévia ao Presidente da Republica, procurou o apoio do PS, submeteu a aprovação do Parlamento.
Desta vez:
- Não deu cavaco à Assembleia da República (nada lhe tendo submetido para apreciação);
- Não deu cavaco ao PSD (atraiçoando o namoro sustentado na viabilização do Orçamento, o PEC1, PEC2, PEC3);
- Não deu cavaco ao PS que o sustenta (sendo desleal com a família política e amigos);
- Não deu cavaco ao próprio Cavaco, Presidente da República (atraiçoando as Instituições que jurou observar).
Não é pois de estranhar o desfecho, que muitos dizem ter sido procurado.
Claro, que todos receamos o futuro, que é por essência, desconhecido, mas por o ser, não nos deve constranger a escapar do pântano, onde a cada passo mais nos sentíamos afundar. [Os eufemísticamente designados de PEC(s), um atrás do outro. (O último C, é mesmo a inicial de crescimento!)]
Aos representantes, os deputados, seguem-se os mandantes, o povo.
Enfim, brincando: -Sócrates não PEC mais.