domingo, 17 de janeiro de 2010

Conversando com Torga



Obra de Torga responde a perguntas!

Miguel Torga nunca deu autógrafos, nem entrevistas. Um dia disse: "Se algum jornalista tiver interesse em entrevistar-me, há uma fórmula para o fazer com o meu consentimento e aprovação. Elabore as perguntas e procure as respostas na minha obra".

O desafio foi aceite, pouco antes da morte do autor, que deu a sua aprovação ao trabalho final, do qual se publica parte.

Jornal de Notícias - A sua pátria é, realmente, Portugal ou a língua portuguesa?

Miguel Torga ("Diário X", Coimbra, 14 de Novembro de 1966)
A língua é uma pátria. A pátria dum escritor, pelo menos. Que são os Lusíadas senão um território idiomático, heroicamente conquistado às trevas da nudez, um espaço vital de expressão que o próprio verbo agenceia, baliza e preserva?

JN - Em que momentos achou, durante o ano posterior à revolução de 25 de Abril de 1974, que ela valeu a pena?

MT ("Diário XII", Coimbra, 25 de Abril de 1975)
Eleições sérias, finalmente. E foi nestes cinquenta anos de exílio na pátria a maior consolação cívica que tive. Era comovedor ver a convicção, a compostura, o aprumo, a dignidade assumida pela multidão de eleitores a caminhar para as urnas, cada qual compenetrado de ser portador de uma riqueza preciosa e vulnerável: o seu voto, a sua opinião, a sua determinação.

JN - Reserva a frontalidade para os amigos ou ela faz parte do convívio diário com conhecidos e inimigos declarados?

MT ("Diário IV", Porto, 10 de Outubro de 1949)
Creio que a vida não tem sombra de interesse, concebida e vivida em termos de mentira e de conveniência.

JN - Que relação mantém e quer deixar viva com os seus leitores?

MT ("Antologia Poética")
Querido leitor, gostaria de conversar contigo alguns momentos no pórtico desta antologia. Para já, quero que saibas que hesitei muito antes de me decidir a organizá-la. Nem sempre um autor é bom juiz em causa própria. Não raro dá preferência afectiva aos frutos das suas horas menos felizes. …/… Tu dirás de tua justiça, com a objectividade de quem observa o jogo de fora.
LICÍNIA GIRÃO, Jornal de Notícias

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