sexta-feira, 18 de dezembro de 2009

contrato de união

A expressão de Jorge Miranda, no post anterior “um dos pressupostos do casamento é a filiação", fez-me lembrar uma discussão de teor semelhante (na altura, era o debate sobre a despenalização do aborto), que teve lugar há já alguns anos na Assembleia da República, e que terminou com um episódio da deputada/poeta, Natália Correia, a responder ao colega deputado João Morgado (que se opunha ao aborto, e já agora que era da terra deste blog, meu amigo e colega).

O episódio, ficou célebre, pelo teor sarcástico e humorista da resposta ter sido feito em verso:
Disse, o deputado João Morgado: «O acto sexual é para ter filhos»
Respondeu, a deputada Natália Correia:

Já que o coito - diz Morgado -
tem como fim cristalino,
preciso e imaculado
fazer menina ou menino;
e cada vez que o varão sexual
petisco manduca,
temos na procriação
prova de que houve truca-truca.

Sendo pai só de um rebento,
lógica é a conclusão
de que o viril instrumento
só usou - parca ração! -
Uma vez. E se a função
faz o órgão - diz o ditado-
consumada essa excepção,
ficou capado o Morgado.”

5 comentários:

  1. Manuel,
    Estava para dizer isto no post anterior mas digo-o aqui. Como sabes (já tive oportunidade de abordar este assunto num post teu), penso que esta questão é completamente "kitch".
    Parece-me, no mínimo, superficial que homossexuais e lésbicas queiram adoptar um estatuto e uma celebração que remete para a tradição socio-cultural heterossexual e afigura-se-me ridícula a triste figura que fazem os casais gays trajados de noivos na cerimónia. Aliás, sinto-me à vontade para falar sobre o assunto pois tenho amigos homossexuais e nenhum deles sente necessidade de vir para a ribalta falar da sua orientação sexual ou de casar. Sentem, sim, necessidade de ter os mesmos direitos nos planos sócio-afectivo e legal. E recusam-se a enveredar pela artificialidade de copiar modelos heterossexuais.
    Por outro lado, a resolução do problema dos direitos das pessoas que vivem juntas não tem que passar pela relação sexual entre elas. Há pessoas que vivem juntas apenas por amizade ou porque as famílias não querem saber delas (estou a lembrar-me de muitos idosos votados ao abandono).
    Agora, também considero que as declarações de Jorge Miranda são totalmente bacocas e só um idiota as pode proferir. Basta pensarmos nos casais heterossexuais que não podem ou não querem ter filhos. Não são família?
    Um dos problemas na abordagem destes e de outros assuntos nos media deste país é que qualquer asno pode vir para a televisão dizer disparates: estou a lembrar-me de um outro «homem em delírio» que veio para a televisão dizer que se se concretizar a legalização dos casamentos homossexuais, então também os filhos poderão vir a casar com os pais, os irmãos com irmãos, etc.
    Não há paciência para tanta ignorância.
    Abraço.

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  2. Austeriana,
    Sobre esta matéria, será aprovado um diploma legal que, como todos os demais, deverá conformar-se com a Constituição da República. Confesso que sou ignorante nesta matéria, isto é, se a lei fundamental, caracteriza o casamento como união heterosexual, como diz o Jorge Miranda, ou se trata de uma interpretaqção dele, de algo que não tem uma redacção linear. Também penso que as leis são para se mudar quando são impedimento às pretensões da sociedade, pois aquelas devem existir servir esta e não o contrário.
    Também concordo que este tipo de problemas leva ao fundamentalismo de opiniões, como o que devia importar era a existência de legislação que protegesse os interesses de quem vive com outro ou outra, querendo, e não a designação do que encerra essa legislação.
    Bjs

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  3. Corrijo, "aquelas devem existir para servir esta e não o contrário".

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  4. Primeiro: Não conhecia a resposta de Natália Correia. Li com atenção e julgo não haver melhor forma de responder.
    Segundo: Concordo plenamente com a opinião da Austeriana. Homossexuais... tudo bem, fantástico! Rigorosamente nada contra [antes pelo contrário]... Mas vamos lá colocar as mãozinhas na consciência: Para quê a palhaçada! Também amo. Também quero gozar dos meus direitos, mas não acho o casamento incontornável. No entanto, os heterossexuais têm o direito de escolha... porque não simplesmente dá-lo também às PESSOAS [CIDADÃOS] com outras orientações sexuais? A ignorância das pessoas e a sua falta abertura são monstros que perseguem as minorias.
    A Igreja Católica é o grande fabricante desse tipo de "tabus" [os quais, para mentes mais abertas, já o deixaram de se há algum tempo]. A Lei? Sempre teve as suas pequenas grandes lacunas!
    Obrigada pela visita e pelo comentário! Não tenha dúvida de que tenho aprendido muito, mas muito mesmo com a minha filha!

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  5. Olá Manuel,
    Antes de mais, obrigada por se ter tornado seguidor do meu blog. Bemvindo :)

    E...quanto ao tema deste post... porque tudo já está dito, acrescento só isto: "Ó Natália, então não é que temos agora um politico, perdão se faz favor, uma politica...sim uma MULHER, que precisa de um idêntico poema?! Havias tu de estar cá e estupefacção maior não te faltaria por ouvires coisa idêntica a "O acto sexual é para ter filhos" vinda da boca de uma 'piquena e mabalarista' mulher!!! :D :D :D

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