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O bastonário da Ordem dos Advogados, Marinho Pinto, defendeu "uma greve à democracia". Considerou que "o nosso povo não é exigente com os políticos" e que na altura de votar "lá vão legitimá-los outra vez". No entender do bastonário dos Advogados, isso confere aos políticos "uma sensação de impunidade", que se estende do Governo à oposição.
Seguindo Manuela Ferreira Leite, que defendeu uma suspensão da democracia por seis meses, Marinho Pinto foi mais longe e sugeriu: "Não sei se o povo português não faria melhor em fazer greve à democracia por um dia, precisamente no dia das eleições, para dizer claramente à classe política aquilo que dizem nos cafés". Para Marinho Pinto, essa seria "a grande punição democrática". [...] Correio da Manhã
A ideia, em si, parece simpática, tanto mais agora que abominamos os políticos que nos meteram nesta profunda e irritante crise.
Mais, a ideia nem sequer é nova. Em tempos foi o MFA a defendê-lo em guerra aberta contra a Assembleia Constituinte. Também José Saramago, no seu Ensaio sobre a Lucidez, descreve um movimento espontâneo de cidadãos que conseguia provocar 70% de votos em branco numa eleição.
Mas, reconhecendo-se que os “inimigos de estimação” do senhor Marinho Pinto, durante todo o seu bastonato, foram as autoridades policiais (desde a GNR, PSP, Judiciária e Guardas Prisionais), Ministério Público e Tribunais (em especial os juízes) e nunca os políticos e, pelo contrário, que sempre veio a terreiro defender o primeiro-ministro, José Sócrates, e outros socialistas quando acossados pela justiça (estou a lembrar-me da Casa Pia, Freeport, Escutas, EuroJust, Face Oculta, etc.) só podemos concluir que aquela sua ideia não é nada peregrina nem ingénua.
Apetecia-me, para terminar, lembrar-lhe que a essência da Democracia reside precisamente no intrínseco poder/dever do povo de participar e contribuir para a tomada de decisão. Votar no partido X, Y ou Z, em branco, ou anulando o seu boletim, mas sempre descarregando o nome no caderno eleitoral.