sexta-feira, 27 de agosto de 2010

Lapidação. Abordámos este assunto a 9 de Julho, neste blog. Voltamos a ele.

Tenho pressentido ao longo dos tempos a visão benévola que determinadas personagens de cultura (pelo menos assim pretensamente tidas) têm sobre o mundo árabe. Estes esclarecidos, (apodados por vezes de esquerda romântica, com prejuízo para esta) defendem esses povos, a sua cultura, os seus usos e costumes, e implicitamente o islamismo, a sua religião, por os terem como mais fracos e perseguidos pelos mais fortes.

É vê-los tomar intransigentemente a sua defesa contra qualquer que seja a posição de Israel, dos Estados Unidos da América, da Alemanha, França ou outros, que contenda com a posição árabe. É vê-los querer impor aos Estados Europeus que recebam e empreguem, sem restrição, todos os árabes que os demandem, com todas as suas tradições e hábitos. (a migração em busca da sobrevivência é um assunto que merece outra análise).

Ora, eu que sempre tive para comigo que há pessoas boas e más, em todo o lado e em todas os povos e, as nações, quaisquer que elas sejam, são o fruto das políticas das pessoas que as dominaram, parece-me uma profunda hipocrisia dogmatizar o mundo em bom e mau.
É por isso, que eu não entendo nem concebo o “gritante silêncio” daqueles pretensos cultos humanistas e muçulmanos tolerantes, perante a ignomínia do assassínio, na praça pública, pelas massas ululantes, a mando da “justiça!”, de mulheres acusadas de infidelidade ou outro acto menor considerado crime.

É assim mesmo, tal e qual numa actual praça de touros enquanto o matador corta a orelha do animal, ou na idade média se queimavam pessoas junto ao pelourinho da terra, a iraniana Sakineh Ashtiani, vai ser enterrada na praça, e morta à pedrada por quem queira arremessar.

Eu não aprecio os escritos e opiniões da jornalista Fernanda Câncio, sempre muito limitados e tendenciosos politicamente ou arrestados as causas fraturantes. O artigo que hoje fez publicar no Diário de Notícias, também poderia enfileirar-se nesta última categoria, agora em defesa dos direitos das mulheres. Porém, neste, também aborda com alguma singularidade a monstruosa e desumana pretensa aplicação da justiça no Irão.

Diz ela:
“.. tudo isto parece impossível de tão bárbaro, tão de outro mundo - um mundo onde se mata com pedras nem muito grandes nem muito pequenas para que a agonia dure, onde uma mulher pode ser o alvo de um jogo de acerta e mata por causa desta palavra, adultério, desta noção de que as mulheres são o mal e o corpo do diabo, feitas para castigo e submissão.
…Posso dizer que não perdoo a quem não erga a voz contra a ignomínia e a obscenidade da tua condenação, contra a lei repugnante que te condena e o regime que a sustenta. Posso dizer que não admito que hoje, no meu mundo, no meu tempo, estas coisas se justifiquem com "diferenças culturais" ou "ordens internas"e não ocasionem protestos vigorosos de todos os governos que se querem decentes - a começar pelo do meu País. Posso dizer que vou estar atenta a todos os silêncios e que espero ver na primeira fila da tua defesa os que se afirmam apologistas incansáveis da vida e os que se reclamam de uma interpretação benigna do Islão. “

3 comentários:

  1. Olá Manuel Afonso,
    Também postei sobre este mesmo problema que é uma vergonha para as sociedades actuais.
    Se me permites, queria só alertar a Fernanda Câncio - caso ela se tenha referido apenas às mulhes - que há um facto da maior importância: é que há homens que também são mortos por este processo. Em menor número, mas há.
    É que quando FC afirma que: "...desta noção de que as mulheres são o mal e o corpo do diabo, feitas para castigo e submissão." pode deduzir-se, erradamente, que os homens estão salvaguardados. Não li o artigo, portanto, limito-me a este excerto.
    Abraço.

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  2. Olá, Manel!
    Subscrevo o post e o comentário da Teresa Santos.
    Infelizmente, não é só em relação ao vestuário que as «modas» se instalam...
    No jornalismo, há igualmente um conjunto de temas que são reiteradamente abordados de uma única forma - a que está na moda - e este é um deles.´
    Neste como em outros assuntos, a blogosfera tem um papel importantíssimo, no sentido em que viabiliza a difusão de contraditório, coisa que não abunda nos nossos mass media...

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  3. Olá Teresa, já fui ao teu blog ler o teu post sobre este mesmo assunto. Está muito bom e concordo plenamente com ele, como subscrevo o comentário supra, designadamente quanto à jornalista Câncio.

    Olá Clara, na verdade é a moda dos assuntos para alguns jornalistas que ditam o que escrevem. Com esta senhora jornalista é isso que se passa há alguns anos.

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