segunda-feira, 19 de outubro de 2009

A moda e os costumes

Nicolau Tolentino (1740-1811), foi um jurista e poeta com humor. Escreveu com o seu estilo próprio, em tom de grande humor, os costumes tolos e o comportamento de aparências.

Os mais velhos ainda devem lembrar-se de ler no nosso manual de Língua Portuguesa, o seu soneto "O toucado".

Na época, quanto mais alta fosse a cabeleira mais na moda estaria, (influências da moda europeia, sobretudo a francesa) então, diz Nicolau, a filha de um rico embarcado, enfia um colchão na cabeleira. Como é obvio, seria difícil o colchão caber no toucado da rapariga. Mas assim, Nicolau Tolentino, exagerando propositadamente, critica os hábitos de exibicionismo usuais em certas camadas sociais da época.


Aqui fica o famoso soneto.

Chaves na mão, melena desgrenhada,
Batendo o pé na casa, a mãe ordena
Que o furtado colchão, fofo e de pena,
A filha o ponha ali ou a criada.
A filha, moça esbelta e aperaltada,
Lhe diz co'a doce voz que o ar serena:
- «Sumiu-se-lhe um colchão?
É forte pena;
Olhe não fique a casa arruinada...»
- «Tu respondes assim?
Tu zombas disto?
Tu cuidas que, por ter pai embarcado,
Já a mãe não tem mãos?»
E, dizendo isto,
Arremete-lhe à cara e ao penteado.
Eis senão quando (caso nunca visto!)
Sai-lhe o colchão de dentro do toucado!...

6 comentários:

  1. A moda, mais que os costumes
    Muita gente vai atrás
    E para ficar bem diferente
    Muita "coisita"se faz

    O soneto está demais
    E de muito bom humor
    Guardei-o porque gostei
    E hoje tem muito valor

    Passámos de oito a oitenta
    Claro que há excepções
    Mas libertinagem é mau
    Nunca tenham ilusões

    Há quem pense, por dizer não
    Já está a traumatizar
    Mas firmeza, amor e carinho
    Faz bem!..Ajuda a educar.

    Abraço

    Áurea

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  2. Concordo plenamente, Áurea, aliás acredito mesmo que é com as contrariedades que surgem na vida e as negativas que se recebem, que se avança e se cresce com consciência de que a maior parte das acções humanas consome esforço.

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  3. Ontem, como hoje, as aparências é que contam.
    Abraço.

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  4. Adoro este soneto! Nunca me posso esquecer as gargalhadas que dávamos na aula e a freira furiosa connosco e , para ajudar á festa um colega engraçadinho, deitava mais achas na fogueira:"Ó Madre, dentro do seu toucado não estará por acaso algum colchão"?
    Estou a escrever este comentário e estou a sorrir, lembrando-me daquela aula maluca...
    Um beijo e óptima semana.
    Graça

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  5. Também eu me ri muito quando o explorámos na aula. Mas essa de se meter com a Madre daquela maneira era atrevimento, não? E ao mesmo tempo coragem!
    Na verdade as aparências continuam a contar muito hoje, já não com toucados mas com plásticas, pilings, and so on.

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