Hoje ser-se actual é estar aberto a discutir e não hostilizar os temas tidos por fracturantes, admitir a eutanásia ou a morte assistida, o aborto livre e a ajuda ao suicídio em casos precisos, a educação sexual no ensino obrigatório e a distribuição gratuita de preservativos masculinos e femininos na escola, a adopção por homossexuais, etc. Estes e outros similares, são assuntos recorrentes e transversais a múltiplas sociedades.
Ser-se moderno hoje é, igualmente, admitir o casamento entre pessoas do mesmo sexo. É admitir o antropológico alternativo de ser gay, lésbica, bissexual ou transexual.
Enfim, tudo não passa de adjectivação, pois se assim não fora, eu não seria totalmente actual e não seria nada moderno.
Vem isto a propósito da recente discussão na Assembleia da República sobre a definição de sexo. Isso mesmo, em acaloradas, acesas e sapientes prelecções tentavam os nossos deputados chegar à melhor forma de caracterizar e distinguir o homem da mulher. Dizia um:
- "O sexo não é suficiente para definir se alguém é homem ou mulher".
Esta profunda e candente dúvida gerou forte debate, apoiando uns, e contraditando outros, de tal forma que, depois de horas de importante debate e não se conseguindo fazer luz, só a forma democrática da votação poderia decidir se o sexo permite distinguir homem de mulher. Seria a ciência do voto a experienciar cientificamente o certo ou errado da formulação. Ora, como era de esperar, depois das posições assumidas no debate, a votação reflectiu a divisão dos deputados, mantendo-se a verdade de uns e a mentira dos outros.
Melhor seria, sem dúvida, e porventura mais moderno e útil, se os deputados discutissem o sexo dos anjos. É que se conta que enquanto Bizâncio era tomada pelo inimigo, os sábios da cidade discutiam acaloradamente o sexo dos anjos, porque sobre o sexo das mulheres e dos homens já não tinham então qualquer dúvida.
Melhor seria, sem dúvida, e porventura mais moderno e útil, se os deputados discutissem o sexo dos anjos. É que se conta que enquanto Bizâncio era tomada pelo inimigo, os sábios da cidade discutiam acaloradamente o sexo dos anjos, porque sobre o sexo das mulheres e dos homens já não tinham então qualquer dúvida.
Uma reflexão soberba! Realmente, os nossos políticos não têm mais nada de útil, para discutir ao que parece...E, quanto a mim, bem devo ser mesmo antiquada!
ResponderEliminarManuel, tens mesmo o dom da escrita! Conseguiste fazer-me esquecer do pacote de provas de aferição, que descansam aqui numa cadeira ao lado, pois ler aquilo que publicas, tornou-se já habitual e delicioso.
Parabéns e obrigada.
Isabel,
ResponderEliminarAgradeço as lindas palavras supra,imerecidas, e que são apanágio de quem tem um grande coração. Aliás, bem demontrado na entrega que faz à causa da educação e aos seus alunos (esforço e devoção nem sempre reconhecido e nunca recompensado).
É verdade que temos que fazer o nosso caminho, e se o conseguirmos trilhar construindo e irradiando felicidade como o faz a Isabel, tanto melhor. Um abraço
Lembro-me perfeitamente das aulas de Penal onde debater sexo e psique traziam à tona curiosas observações, eram interessantes. Contudo, hodierno, concordo que esteja de bom tamanho discutir o sexo dos anjos, tão somente. Afinal, a modernidade caminha lado a lado com a praticidade.
ResponderEliminarUm abraço,
Ana Lúcia.
Maravilha de texto!!
ResponderEliminarComo vc escreve bem...
Percebe-se que a questão da consistência, importância e utilidade dos debates que consomem horas de trabalho dos políticos não é regional, é universal!! Aqui, debates inconsistentes prolongam-se sem chegar a um consenso, até porque o salário deles aumenta consideravelmente em virtude das "horas extras"...
Em certos momentos, modernidade e retrocesso parecem caminhar lado a lado... Nem temos mais certezas bizantinas: provavelmente os políticos irão discutir bastante o sexo de homens e mulheres para só então se dedicarem a discutir o sexo dos anjos!!
Amei suas reflexões e virei aqui sempre, lê-las!!
Beijos!!